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Archive for Julho, 2023

Hoje rasquei em tiras uma lista bem antiga de telefones. Fui lendo, página a página, os nomes e números ali escritos e relembrando cada uma daquelas personagens. Personagens da minha vida, uns de boas lembranças, outros nem tanto, outros ligados aos maus momentos e até à traição no seio do trabalho, quero dizer no meu mundo de sobrevivência. Fui eliminando um após outro, bons e ruins, momentâneos amigos, falsos amigos ou declarados inimigos. Em nenhum momento tive intenção de investigar quais deles ou delas continuam, como eu, entre os vivos. Eis que surge um nome que me cativou a atenção e a vontade de saber sua sorte. Um escocês que nada teve de notável durante o tempo em que juntos trabalhamos e a vida arriscamos num navio de perfuração, mas que, alguns anos depois indiquei para outra plataforma em que eu estava e aí ficamos anos só nos encontrando por alguns minutos no helipad, um embarcando outro desembarcando, ou na leitura dos diários e relatórios deixados na escrevaninha por cada um de nós. Procurei e encontrei no FB Russell Philips, escocês meio difícil mas bom de trampo, já com 74 anos de idade, também aposentado e há vinte anos vivendo em Penang na Malásia. Contou-me do passamento da sua esposa, naquele tempo lutando contra o câncer, e seu posterior casamento com uma indonésia de Borneo que é sua companheira até hoje. Nossa troca de palavras terminou com a seguinte frase dele: “Old friends are our best friends”! Fiquei, afinal, sensibilizado e feliz pelo reencontro…

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RIP

Tony Bennet, o magnífico crooner, levou sua belíssima voz de invejável extensão praticamente imaculada através de sete décadas! O lançamento do seu último álbum já com 95 anos de idade, é um record que será difícil igualar. Seu estilo de gentleman nos palcos, sua maneira única de interpretar, seu respeito e admiração pelos músicos que o acompanhavam sempre me cativam quando revejo algum dos shows em blue ray que tenho no meu pequeno acervo. As várias gravações de duetos que podem ser encontradas no Youtube, são por mim revisitadas com frequência, sempre com renovada admiração, como se fosse a primeira vez.

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De repente, minha realidade aflora em mim completamente irreal. Desengavetar as bikuatas escondidas há quarenta anos, que incluem papelinhos com frases das meninas: “Eu te amo, papai, eu te amo mamãe”, escrita infantil, desenhinhos, coraçõezinhos. Cartas dos nossos pais e outros familiares que há muito deixaram este plano! Tudo isso custa um bocado a picotar na máquina, porque também para nós a idade chegou, sem dó nem piedade. Fiquei piegas, não mais contenho as lágrimas, que na verdade nunca consegui conter, mas lograva esconder. Lembro de dizer num poema sobre “lágrimas que vergonhosamente me envergonho de mostrar”!

Fico por aqui, com os olhos vermelhos, não sei se de chorar ou de rir, porque outras cousas e lousas encontradas nos deram pra gargalhar, para variar e compensar…

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Zippo

Falar em qualquer mudança, seja de casa, de estado, de país, de status, empurra-nos invariavelmente para dolorosíssimas e traumáticas passagens de vida que procuramos manter seladas. No entanto eis-nos, uma vez mais, a enfrentar uma mudança de endereço após mais de 40 anos de permanência na mesma morada. Não obstante serem circunstâncias muito diferentes, pode ser e é mesmo uma experiência que muito mexe connosco. Especialmente se, como é o caso, estamos numa faixa etária que naturalmente nos arrasta para o desejo de permanecer na nossa habitual zona de conforto. O caos se alastra pela casa habitualmente limpa e organizada, agora tomada por caixas contendo os discos, os livros, os filmes, as utilidades misturadas com as inutilidades, roupas que se separam para doar na igreja, que se separam para usar e, pior, as outras que se separam apenas para preservar um recuerdo, porque não cabem numa perna, muito menos na cintura. “Ah! Como eramos magros e elegantes!”; “Ah! O que o tempo fez com gente!”…

Entre os escombros, encontrei um par de isqueiros “Zippo” que me foram oferecidos ao tempo de um remoto tempo em que, noutras latitudes, tomei parte em trabalhos de conversão de estruturas navais petroleiras, para uma grande firma francesa. Nessa época, em terras africanas, jovem com o sangue na guelra, eu fumava que nem uma besta, incluindo os pavorosamente fortes “Gauloises”, preferência dos homens do mar! Os tempos mudaram, mas o zippos ficaram e ficarão, sem uso, artigos de museu pessoal pelo tempo em que eu viver, porque sei que um dia, qualquer dia, alguém os descartará por mim…

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Descaminhos

Dizem os escritores que, para que seja mais fácil fazer fluir as ideias para o papel, é de suma importância escrever todos os dias, capacidade que eu em mim há tempo surpreendi perdida. Pensando um pouco mais, para escrever diariamente, precisamos abastecer-nos de ideias que sejam por nós separadas do “bulk” de ideias que não param de ocorrer em torrente através das várias vias da máquina de pensar. A qual, sabemos, inclui muitas vias fossas por onde escorrem aquelas ideias de merda, que nunca são poucas em quem é vezeiro em deixar o intestino pensar junto. Especialmente após cada viajada randômica, embrutecedora e inútil pelos estéreis caminhos dos efebês, tiquetóques, iutubes e outros que tais. O segredo é, sabemos muito bem, Ler. Ler muito, com muita atenção e agilidade de interpretação do que lemos. Mas, se esta minha afirmação é um aconselhamento, eu não o venho tomando a sério, talvez por me vir deixando arrastar facilmente pelos tais caminhos estéreis, marginados por marginalidades atrativas e corrosivas…

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