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Gripe

Poucas situações me fazem tão irascível como um forte resfriado com tosse e demais componentes. Fico sem vontade nenhuma de conviver e ver pessoas, até porque tenho ganas de me esconder de mim próprio. As mulheres aproveitam para alfinetar que os homens deveriam ter um filho para saberem suportar dores e incômodos e deixarem de “ser frescos” ao enfrentarem uma simples gripe. Mas esta minha gripe, ou resfriado, ou que lhe queiram chamar, está durando muito tempo! Será que eu tenho mesmo de ir ao médico?…

De Macho

Caminho a passo apressado ma non tropo, ruminando qual seria o tipo de semblante a usar ao chegar ao salão de beleza, trazendo a chinelinha certa; “Qualquer coisa menos rir”, pensei; “cara de macho”; e acrescentei reforçando: “macho alfa”, de preferência. A insegurança, claro, havia sido criada por mim próprio, alguns minutos antes. Eu conto: A Nina foi tingir o cabelinho e, enquanto o fazia, decidiu tratar e embelezar as unhas dos pés e mãos – coisa normal e até aí, tudo bem. A coisa começou porque eu fiquei em casa e ela me ligou: “Escuta; eu decidi fazer o pé e preciso que me tragas aqui uma chinelinha que podes encontrar na sapateira do meu lado” – pontoevírgula. Solícito, lá fui eu desincumbir-me das ordens recebidas, entregando-lhe, na presença da mulherada, a chinelinha por mim escolhida. Ela era linda, discretamente rosa e, a meu ver, muito fofinha e tesuda. Mas a chinelinha de quarto que eu tanto gosto de ver nela na intimidade da alcova, parece que não iria servir para sair na rua de volta a casa, preservando as unhas com o verniz ainda não curado! Eu digo a vocês: A gozação foi indescritível e, como imaginam, eu me senti o babaca mais imbecil da história recente de qualquer lugar conhecido ou não. Mas eu fiz valer naquele momento e de novo, o verdadeiro valor de carácter e colhão roxo de um petroleiro vezeiro no arrisco à vida e valente pra caray: Fiquei sentado e não arredei pé esperando por ela, com raiva contida enquanto interpretava sorrisos mais ou menos descarados…

Meio século

Não esqueço, Não perdoo.

Memories

Suponho que todos nós, de uma ou outra forma, poderemos ser assolados por recordações, boas ou más, de momentos da vida trazidos de volta ao pensamento, propelidos por uma composição musical. Não raramente, uma simples canção leva-me irresistivelmente a um lugar que adoraria rever. Como exemplo, se por acaso eu escuto qualquer das faixas de uma gravação ao vivo da Cristina Branco do ano de 2006, imediatamente me encontro caminhando ao longo das margens geladas do Rio Aura, e posso projetar na minha mente cada curva do rio, cada detalhe, os grandes veleiros que são minha paixão e parte integrante do cenário, como o belíssimo “Sigyn” e o Suomen Joutsen. Voltar à Finlândia, afinal, é muito menos realizável, que sonhar acordado enquanto meus ouvidos captam trechos da gravação que agora a Nina está escutando…

Insólito

Ainda ensonado, olho através da vidraça da cozinha: o tempo está cinza e, confesso, eu voltaria de bom grado para a cama. Mas prefiro preparar a velha cafeteira de pressão comprada na Rinascente em Milão, nos velhos tempos em que eu viajava de férias e me considerava muito feliz. Não é que eu não seja feliz, mas é muito diferente, a felicidade que eu sinto com as atuais influências e limitações da minha realidade etária. Mas, eu queria mesmo era contar que, olhando através da vidraça da cozinha, eu vi, incrédulo, um fulano jovem, alto, magro e bem parecido, caminhando descalço pelo asfalto e vestindo apenas uma cueca tipo slip, que me pareceu uma Zorba semelhante às que eu pessoalmente uso! “Ora vejam!”, pensei com meus botões: É preciso ter coragem! Ou será efeito do ácido que terá tomado? Enfim, não julguemos temerariamente, mas duas mulheres que com ele cruzaram, pararam e se voltaram para filmar com seus celulares, também elas julgando insólita tal cena! Acendi as luzes da cozinha e, inexplicavelmente lembrei da professora Dona Aurora. Ela diria num carregadíssimo sotaque portuense: “Nosso Senhôer nos diê bom dia!”…

Pat’ka

Definitivamente não há como reincidir escutando Patrícia Janecková sem cair no choróró mais incontrolável. Lembro de sentimento e reação parecida em um encontro inesperado com uma amiga dos tempos de juventude numa festa em Aveiro. Tudo foi alegria, até que perguntei pela irmã e ela me disse do seu passamento havia alguns anos. Choque psicológico insuportável, a festa acabou para mim e para a minha companheirinha, porque eu não conseguia parar de chorar…

Patrícia, ou Pat’ka, com era e continua sendo chamada pelos seus familiares e amigos, atraiu minha atenção numa apresentação em que ela cantou a melodia do tema do filme “Once Upon a time in the West” de Ennio Morricone. Isso foi 2012 e eu fiquei encantado com a segura suavidade de sua voz, na minha opinião, promessa de uma futura prima dona do Bel Canto. Segui seus passos pelos palcos que pisou enquanto me emocionava com seu brilhantíssimo desenvolvimento de voz e mise en scène. Subitamente, depois de curto hiato, eis a brutal notícia: O câncer agressivíssimo, a mastotomia bilateral, as penosas quimioterapias e as renovadas esperanças até que, não mais que de repente, em outubro do ano passado, ela, maravilhosa criança com apenas 25 anos, se foi e deixou-nos,  seus admiradores, sem chão…  

Influencers

Depois de tanto tempo brincando em cima disto, reconheço que alimentar um blogue obtendo algum resultado em número de leitores, não requer apenas a arte de escrever um monte de besteirinha mais ou menos organizada e concatenada ao que rola no momento. E, eu digo, rola muita besteira por aí em todas as áreas; seja através da criatividade das/dos “brilhantes” influenciadores digitais, dos combativos imbecis que defendem a pé firme a pluralidade de sexos, aos catastrofistas seguidores das palhaçadas gretianas. O pior é que, concluo, o imbecil aqui sou eu, porque não logro sair da cepa torta, ao contrário de muita dessa gente, cujo engenho, arte e artimanhas mescladas com muita cara-de-pau, auferem vantagens nunca por mim imaginadas…

Octo

Surpreendentemente, habituo-me rapidamente a carregar o rótulo de octogenário e até faço uso dele para fazer valer alguns poucos direitos, tais como prioridades na fila, que tomo a meu favor como das raríssimas vantagens na devastadora desvantagem de ser um idoso. E ser um idoso, aprendi, é uma merda. Mas certamente não irei começar a descrever timtimportimtim as desvantagens de ser velho. É vero que me sinto como que indevidamente sobrecarregando a minha condição etária. Todavia e no momento, tento mas não consigo definir o que esse “indevidamente” signifique. E toco prà frente a minha octogenarisse enquanto as pernas me suportem…

Atropelo

Porque detesto política, tendo a não usar tal assunto para os meus escritos, mas para minha desgraça, a malfadada está em todos os cantos do planeta e, ai de mim, na interneta, que é a minha fonte, que é também tua e o que vou falar já foi falado por ti, ou por outro qualquer que, como eu, não suporte escutar noticiários recheados de facínoras grandiloquentes intrujando a plebe pagante.

Poderia falar sobre aquela ponte lá nos states, derrubada no meio da madruga por um supercontainership com um apagão. Agora vai ser um bom negócio de engenharia na corrida a construir e instalar contrafortes para proteger as estruturas primárias das pontes que ainda estão inteiras. Mas, dou-me conta, estou falando do mesmo: Políticos! Eles por certo que cortaram verbas na construção da ponte, que ficou sem contrafortes de defesa até ser atropelada daquele jeito…

Falésias

Eis-me acordado nesta manhã: um domingo mal-encarado, cinza e fosco, pelo menos por enquanto. Para não variar, ligo o laptop…e zás, FB vem logo atrás! E o que é que ele traz? Besteira de montão que preciso filtrar com desleixada atenção. Até que surgem algumas postagens que fazem mais sentido e pedindo leitura. Leio, no post de uma amiga virtual, algumas afirmações interessantes pela escritora italiana Bárbara Alberti que, do alto dos seus 81, diz que prossegue cavalgando a vida ao longo da borda de um precipício (a morte), mas que está pronta para viver mais duzentos anos. Já eu, de “apenas” 80 e tenho medo de cavalo, faço trilha ao longo da aresta da falésia proclamando a habitual convicção da minha imortalidade. E como imortal também precisa comer, vou ali no super da esquina comprar ingredientes para o almoço…