Sentei, refastelado, no incômodo sofá da redoma. Como alguém pode refastelar-se num sofá tão incômodo? Eu posso, porque tudo posso, eu acho, eu acho-me. Refastelei-me e observo interessado minhas pernas nuas, estranhamente brancas e cobertas de significativas marcas da idade. Percorro-as com o olhar, começando nas pontas dos dedos dos pés e terminando onde as alvas pernas terminam e começa o tecido de algodão da cueca que também é branca e encobre a continuidade de outras alvas regiões do meu corpo. Tenho predileção por ficar de cueca e camiseta. É curioso eu tanto gostar de ficar de pernas ao léu e detestar ver-me de tronco nú. Gosto de explorar as minhas pernas porque, penso, elas me transportaram ao longo da vida por veredas tortuosas, por montes e vales e rios a vau, mas sempre lograram conduzir-me a recantos amenos onde, diziam-me, poderia encontrar a felicidade. Lá aprendi, todavia, que a tal da felicidade precisaria sobreviver à ferocidade…
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