Da casa da minha irmã na zona rural de Palmela até ao bairro do Liceu em Setubal, são cerca de treze sinuosos quilômetros por entre velhas e novas construções, terrenos e pedreiras nas pitorescas vertentes dos montes, caso optemos por um desvio pela velha e estreita estrada da Baixa de Palmela. Velha, estreita, mas de piso excelente e com boa sinalização, se considerarmos tratar-se de uma via que poderíamos chamar de rústica. No último sábado dia 17, a meio da tarde e no momento em que dezenas de pessoas eram imoladas no inferno do Pedrógão Grande, observamos que o termômetro do pequeno C3 exibia espantosos 47 graus celsius de temperatura externa, enquanto o céu escurecia e ventos fortíssimos eram sentidos. Logo que deixamos o carro, notamos que os fortes ventos estavam aquecidos como se houvessem passado por unidades térmicas! Negras formações de nuvens deslocavam-se rapidamente, enquanto extravasavam sua enorme carga estática em relâmpagos e trovões. Nem uma gota de chuva caiu nas áreas que percorremos, sugerindo que as gotículas que formavam aquelas pesadas nuvens terão sido evaporadas pelo intenso calor…
De volta aos tempos de infância, recordo-me viajando em transportes ferroviários propelidos por locomotivas a vapor tendo por combustível a lenha e o carvão soltando fagulhas. A velha linha de Barca d’Alva serpenteava ao longo da margem direita do Rio Douro em direção à fronteira de Espanha, hora suspensa sobre o impressionante vale de socalcos entalhados nas encostas plenas de produtivos vinhedos, hora através de florestas de pinheiros resinosos. Acreditem-me, não me lembro de acontecerem incêndios florestais. Muito menos com a trágica constância e magnitude do que neste momento vivemos. Algo de muito grave se passa, seja pelas condições climáticas, por erradas políticas florestais, por falta de cidadania e amor à terra natal, por tudo isso junto…
Precisariam os velhos Lusitanos – Hoje de Novo – assumir Portugal?.