Falar em qualquer mudança, seja de casa, de estado, de país, de status, empurra-nos invariavelmente para dolorosíssimas e traumáticas passagens de vida que procuramos manter seladas. No entanto eis-nos, uma vez mais, a enfrentar uma mudança de endereço após mais de 40 anos de permanência na mesma morada. Não obstante serem circunstâncias muito diferentes, pode ser e é mesmo uma experiência que muito mexe connosco. Especialmente se, como é o caso, estamos numa faixa etária que naturalmente nos arrasta para o desejo de permanecer na nossa habitual zona de conforto. O caos se alastra pela casa habitualmente limpa e organizada, agora tomada por caixas contendo os discos, os livros, os filmes, as utilidades misturadas com as inutilidades, roupas que se separam para doar na igreja, que se separam para usar e, pior, as outras que se separam apenas para preservar um recuerdo, porque não cabem numa perna, muito menos na cintura. “Ah! Como eramos magros e elegantes!”; “Ah! O que o tempo fez com gente!”…
Entre os escombros, encontrei um par de isqueiros “Zippo” que me foram oferecidos ao tempo de um remoto tempo em que, noutras latitudes, tomei parte em trabalhos de conversão de estruturas navais petroleiras, para uma grande firma francesa. Nessa época, em terras africanas, jovem com o sangue na guelra, eu fumava que nem uma besta, incluindo os pavorosamente fortes “Gauloises”, preferência dos homens do mar! Os tempos mudaram, mas o zippos ficaram e ficarão, sem uso, artigos de museu pessoal pelo tempo em que eu viver, porque sei que um dia, qualquer dia, alguém os descartará por mim…
Alguém um dia nos descartará…Forte abraço, nobre amigo (Homem do mar).
Imenso abraço, meu querido amigo!